João Gonzaga

João Gonzaga é muito conhecido no Alto Juruá por três motivos: por ser um grande compositor, um grande contador de histórias e também por sua falta de beleza.
Sempre bem-humorado, ele jura que apesar dessa fama é o mais bonito dos seis irmãos. Mas mesmo se achando bonito desse jeito, ele conta que quando nasceu, em 1952, assombrou até a parteira. “Ela não sabia se aquilo que nasceu era gente ou se era bicho, porque o corpo era pequeno, a cabeça meio grande, os olhos sem tamanho e as orelhas cobriam os ombros”.
Apesar de sua fama pela falta de beleza, seu talento musical é indiscutível. Panavoeiro, como também é conhecido, escreve suas próprias canções e tem como inspiração alguns animais da floresta, que lhe ensinaram como transformar sua vontade de cantar em belas canções. “Desde a minha juventude, eu criança ainda, eu comecei a estudar pra fazer minhas próprias músicas. Porque eu ouvia as músicas que os cantores cantavam e eu tinha vontade de cantar também. Mas eu tinha vontade de cantar as minhas próprias músicas também. E como é que eu ia cantar se eu não sabia, se eu não tinha um professor que me ensinasse? Aí, eu me liguei com os bichinhos da floresta, com os passarinhos, prestando atenção aos grupos deles, que cada um cantava suas próprias músicas: o corrupião canta as músicas dele, o sabiá as dele, o uirapuru as dele e cada serzinho desses da floresta canta sua própria música. Eu me liguei com esses bichinhos e achei o direito de cantar também, de fazer minhas próprias músicas. Mesmo que eu não cante bem que nem os cantores, mas eu canto as minhas próprias autorias também. A coruja não canta música do sabiá, né? O sabiá não canta do corrupião. E daí foi onde eu achei o direito de cantar minhas próprias músicas também. Fui estudando com aqueles bichinhos e hoje não sei cantar música de outros cantores. Peça pra eu cantar que eu não sei. Não dá. Enquanto eu tô pra aprender a música de um cantor eu tô trabalhando fazendo uma própria minha”.
 

Deixe um comentário